Ligue 188

"Suicidas" foi o meu primeiro contato com a escrita do autor Rafael Montes (apesar de já ter lido Bom Dia, Verônica, na época os autores ainda usavam um codinome, então eu não sabia que ele estava envolvido na história). Curiosamente, Suicidas também foi o primeiro livro publicado pelo autor, o que torna essa leitura ainda mais interessante — e, claro, trouxe algumas observações a fazer sobre essa obra.
Antes de tudo, preciso deixar um aviso importante: essa história não é recomendada para pessoas mentalmente fragilizadas. O livro contém cenas explícitas de violência, suicídio, tortura, profanação de cadáver e linguagem imprópria. É um thriller psicológico denso e sombrio que pode ser perturbador para alguns leitores.
Enredo
A trama gira em torno de nove jovens que decidem cometer suicídio por meio de uma roleta russa em uma casa de campo pertencente a Zack, o herdeiro de um grande império construído por seus pais. Zack é o típico garoto rico e sem responsabilidades, que vive uma vida de festas e excessos. Seu melhor amigo, Alessandro, é o completo oposto: introvertido, um pouco nerd e constantemente vivendo à sombra de Zack.
O suspense começa um ano após a tragédia, quando a investigadora Diana reúne informalmente as mães dos nove garotos para ler o diário escrito por Alessandro, que relata as últimas horas dos jovens antes do jogo mortal. Entre os capítulos da audição, o autor intercala anotações que foram encontradas no quarto de Alessandro, narrando os momentos que antecederam o evento, o que ajuda o leitor a entender as motivações e os segredos por trás dessa decisão extrema.
Segredos sombrios são revelados ao longo da história: brigas, desentendimentos, romances proibidos (ou não correspondidos), assassinato, corrupção, gravidez e muito mais. A forma como Rafael Montes estruturou a narrativa é bastante envolvente — a alternância entre os relatos de Alessandro e as reações das mães durante a leitura cria um ritmo viciante que prende o leitor até o final.
Personagens
Os personagens secundários que participam da roleta russa — Ritinha, Otho, Lucas, João, Danilo, Waléria e Noah — não são profundamente desenvolvidos. Suas motivações para participar de um ato tão extremo são superficiais e, em alguns casos, pouco convincentes. Um exemplo disso é João, que havia ajudado o irmão a não cometer suicídio anteriormente, o que torna ainda mais estranha a decisão de ele próprio entrar nesse jogo mortal.
Zack e Alessandro, por outro lado, são personagens bem explorados. A dinâmica de poder entre eles é complexa e influenciou diretamente os eventos que levaram ao suicídio em grupo. A obsessão de Alessandro por Zack e o papel que Noah desempenha na história também adicionam camadas importantes ao enredo.
Na verdade todos temos medo de morrer daquela incerteza escondida de saver se voltaremos vivos para casa, se teremos mais uma noite de sono, mais uma noite de sexo, assistiremos a mais um bom filme ou teremos tempo de terminar o livro que começamos a ler. Afinal, tudo acaba. Ninguém morre vazio de sonhos. O morto é enterrado com seus projetos, seus desejos, tudo...Num átimo, o tudo vira nada, e é só. A vida continua. Deus aperta o stop, e acabou sua vez nesse mundinho.
Críticas e Pontos Fracos
O suspense criado por Rafael Montes é intrigante — você desconfia de todos e de tudo durante a leitura —, mas, como é o primeiro livro do autor, algumas falhas são compreensíveis:
- Pontas soltas: O desfecho deixa muito a desejar. Embora o autor tenha claramente a intenção de causar desconforto com o final (e ele conseguiu), algumas respostas importantes foram deixadas em aberto.
- Motivações rasas: O motivo pelo qual os jovens decidiram participar da roleta russa não é convincente o suficiente. É difícil acreditar que eles estivessem tão dispostos a se matar sem uma razão mais fundamentada.
- Final confuso: O dana o personagem começou a revelar tudo o que foi feito para chegar até aqui e a forma com que foi narrado achei muito confuso e como eu disse não me convenceu. A pergunta que não quer calar: será que ele fez isso mesmo para conseguir fama? Ou tudo foi invenção de Alessandro? Acho que nunca saberemos… kkkk.
Conclusão
Apesar das falhas, Suicidas é um thriller psicológico intenso e perturbador que prende o leitor do início ao fim. A narrativa é bem construída, e a alternância entre os relatos de Alessandro e as reações das mães é um recurso narrativo interessante que mantém o suspense constante. Rafael Montes mostrou potencial já em seu primeiro livro, e fico curiosa para ver como ele evoluiu em suas obras posteriores — agora estou ansiosa para ler Jantar Secreto e descobrir se ele conseguiu dar um fechamento mais satisfatório dessa vez.
Se você gosta de thrillers sombrios e psicológicos, Suicidas é uma leitura que, com certeza, vai te deixar reflexivo (e possivelmente perturbado). Mas se você é sensível a temas pesados, recomendo ter cautela antes de mergulhar nessa história.
👉 Classificação: ⭐⭐⭐ (3/5)